Medo de Estar Sozinho: O que é a Perturbação de Personalidade Dependente? Causas, Efeitos e Tratamento

O que é a Perturbação de Personalidade Dependente?

A perturbação de personalidade dependente é um distúrbio caracterizado por sentimentos de impotência e inadequação, e pela crença de que os outros são mais competentes e capazes, o que influencia o comportamento relacional. A pessoa acredita que precisa de ser cuidada por outros e tem um medo extremo de ficar sozinha. Para evitar estar sozinha, pode exibir comportamentos submissores e, por vezes, excessivamente apegados nas relações^{1, 2}.

Embora a perturbação de personalidade dependente receba menos atenção em comparação com outras perturbações de personalidade (como a perturbação borderline, histriónica ou paranoide), estudos indicam que 1–3 em cada 100 pessoas na população geral têm perturbação de personalidade dependente, e que essa taxa pode aumentar para 5–10% em populações clínicas^{3, 4}. Além disso, é relatado que é 40% mais comum em mulheres do que em homens⁵.

No entanto, estes números são apenas a ponta do icebergue. Os indivíduos frequentemente procuram ajuda profissional não pelos padrões dependentes em si, mas por problemas associados, como sintomas depressivos, ansiedade ou abuso de álcool.

Outras pessoas podem não procurar qualquer ajuda, seja por não reconhecerem os problemas causados pelos seus traços dependentes, seja por os ignorarem. Isto sugere que a prevalência real da perturbação pode ser ainda maior⁶.

Assim, neste artigo pretendemos aumentar a consciencialização sobre a perturbação de personalidade dependente e clarificar os seus efeitos a curto e longo prazo, respondendo a perguntas como: “Quais são os sintomas da perturbação de personalidade dependente?”, “Quais são as causas e os fatores desencadeadores?”, “Como são as relações nestes casos?” e “Quais são os tratamentos disponíveis?”.

Quais são os Sintomas da Perturbação de Personalidade Dependente?

De acordo com a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais (DSM-5), usado por profissionais de saúde mental, o diagnóstico de perturbação de personalidade dependente requer que cinco ou mais dos seguintes critérios estejam presentes desde o início da idade adulta⁷:

• Dificuldade em tomar decisões quotidianas sem uma excessiva reafirmação dos outros;
• Necessidade de que os outros assumam a responsabilidade por áreas importantes da sua vida;
• Dificuldade em expressar desacordo por medo de perder apoio ou aprovação;
• Dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas sozinho devido à falta de confiança nas suas próprias capacidades;
• Fazer esforços excessivos para obter apoio dos outros, mesmo que isso envolva atos desagradáveis;
• Procurar uma nova relação urgentemente como fonte de apoio ou cuidado quando uma relação próxima termina;
• Preocupação irrealista com o medo de ficar sozinho e ter de cuidar de si próprio;
• Sentir-se desconfortável ou incapaz quando está sozinho, devido a medos exagerados de não conseguir cuidar de si.

Como se Manifesta a Perturbação de Personalidade Dependente na Vida Real?

Os sintomas acima podem ser observados, em certa medida, em qualquer pessoa. No entanto, na perturbação de personalidade dependente, a gravidade desses sintomas causa sofrimento significativo e perturbações substanciais na vida social, pessoal e profissional^{1, 7}.

Um reflexo comum desta perturbação é o medo extremo de estar sozinho e a disposição para fazer qualquer coisa para evitar a solidão. Para o indivíduo, depender de alguém é preferível a estar só.

Por exemplo, desde pequenas decisões diárias (como o que comer ou vestir) até grandes decisões (como com quem casar, que emprego aceitar ou que universidade frequentar), a pessoa pode não conseguir agir sem a orientação da figura de quem depende⁸.

Da mesma forma, pode evitar assumir responsabilidades no trabalho por medo de falhar ou ser criticada^{9, 10}. A necessidade de ser cuidada torna a pessoa vulnerável a relações abusivas e exploratórias.

Em outras palavras, o medo de abandono pode levar à obediência total à pessoa de quem depende, aumentando o risco de sofrer abuso^{8, 10, 11}.

Quais são as Causas e Fatores Desencadeadores?

As causas exatas da perturbação de personalidade dependente são desconhecidas, mas estudos apontam possíveis fatores genéticos, ambientais e de desenvolvimento, como^{1, 5, 12}:

• Trauma ou abuso verbal, psicológico ou físico durante a infância;
• Relações abusivas no passado;
• Estilo de vinculação ansioso;
• Ambiente familiar sobreprotetor;
• Histórico de ansiedade de separação na infância;
• Histórico familiar de ansiedade ou perturbações de personalidade;
• Ambientes que valorizam excessivamente a autoridade (religiosa, cultural ou familiar).

O que Fazer?

Se acha que alguém pode ter perturbação de personalidade dependente, incentive essa pessoa a procurar um psiquiatra ou psicólogo clínico sem usar uma linguagem crítica. Evite assumir responsabilidades em excesso, pois isso reforça os traços dependentes^{8, 10}.

Em vez disso, ouça e converse sobre o impacto desses traços. Incentive a procura de ajuda e mostre-se disponível para acompanhar as primeiras sessões. Explique as opções de tratamento e os potenciais benefícios para aumentar a motivação¹⁰.

Fora do tratamento formal, pode ajudar com pequenas tarefas diárias, encorajando a tomada de decisões e a expressão de opiniões¹⁰.

Como é Tratada?

Como mencionado, as pessoas com esta perturbação geralmente procuram ajuda por outros motivos, como depressão, ansiedade ou abuso de substâncias. Nesses casos, podem ser prescritos sedativos, antidepressivos ou ansiolíticos^{6, 12}.

Além da medicação, recomenda-se terapia psicológica, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ou a Terapia de Resolução de Problemas. Os objetivos incluem^{6, 10, 12}:

• Aumentar a autonomia e assertividade;
• Melhorar a autoestima e a autoconfiança;
• Aprender a tolerar a solidão;
• Fortalecer os mecanismos de enfrentamento;
• Sentir-se confortável a expressar opiniões;
• Estabelecer limites saudáveis nas relações.

Sem tratamento, os sintomas podem agravar-se, levando a distúrbios do sono, abuso de substâncias, doenças crónicas e até comportamentos autodestrutivos⁹.

Assim sendo se está em risco ou conhece alguém, procurar ajuda atempadamente pode melhorar significativamente a qualidade de vida e permitir relações mais equilibradas e saudáveis.