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ComeçarO que é o ciúme?
O ciúme é uma emoção negativa que ocorre quando existe uma perceção de ameaça ou um sinal de que uma relação valorizada pode ser perdida1. Embora seja possível falar de ciúme em qualquer tipo de relação, os sentimentos de ciúme são talvez mais intensamente observados nas relações românticas2.
Embora o ciúme nestas relações seja por vezes explicado com a expressão “Quem ama, tem ciúmes”, existem também evidências de que relações onde existe um excesso de ciúme são infelizes e geradoras de stresse, podendo levar ao divórcio, à separação e até à violência3, 4. Neste artigo, vamos olhar para o ciúme a partir de diferentes perspetivas — uma emoção talvez muito natural, mas que conduz a muitas situações indesejáveis.
Antes de falarmos sobre inveja, talvez possamos começar por distinguir inveja de ciúme. A inveja envolve apenas quem inveja e quem é invejado. Vemos o que os outros têm e desejamos ter o mesmo. No ciúme, por outro lado, formam-se três vértices: quem sente ciúme, a pessoa alvo do ciúme e a relação entre ambos. Percebemos uma ameaça de poder perder aquilo que temos devido a determinadas características que outra pessoa possui e nós não.
A inveja é querer o que está no outro, enquanto o ciúme é o medo e a ansiedade de que aquilo que já temos nos seja tirado5, 6. Do ponto de vista da psicologia evolutiva, o ciúme tem uma função: impede que o(a) parceiro(a) seja atraído(a) para outros caminhos e fortalece a relação6.
Partindo deste discurso teórico, podemos dizer que o ciúme nasce da comparação e cria um estado de ansiedade: nós, o(a) nosso(a) parceiro(a) e a(s) terceira(s) pessoa(s). O que mais nos preocupa e o que mais nos assusta pode variar consoante a natureza da relação e dos parceiros, mas o ciúme romântico irá evidenciar aspetos importantes da relação.
Tipos de ciúme
O ciúme pode ser vivido como sentimentos que os parceiros guardam para si ou expressam de forma passivo-agressiva. De um modo geral, o ciúme, caracterizado pela suspeita e desconfiança, pode variar na forma como se manifesta, dependendo da intensidade com que é expresso e transformado em ação.
A psicologia do ciúme assume diferentes formas. Eis os diferentes tipos de ciúme de acordo com as suas causas e reações:
- Ciúme reativo
- Ciúme retroativo
- Ciúme preventivo
Ciúme reativo
O ciúme vivido de forma intensa em termos comportamentais, especialmente através do controlo ou da limitação do(a) parceiro(a), é denominado ciúme reativo7.
Nesta condição, uma atitude de suspeita ganha destaque com o ciúme sentido, levando à realização de determinados comportamentos. O ciúme pode manifestar-se mesmo em situações pouco relevantes. Por exemplo, num local cheio de gente, é possível imaginar alguém colocar a mão no ombro do(a) parceiro(a) como forma de dizer: “Estou aqui”6.
Comportamentos como os seguintes podem ser considerados exemplos de ciúme reativo8:
- Um dos parceiros verificar o telemóvel ou dispositivos semelhantes do outro
- Fazer acusações com a ideia de que o(a) parceiro(a) não lhe é fiel ou não o(a) considera atraente
- Seguir as atividades e a localização do(a) parceiro(a) ao longo do dia
- Acusar o(a) parceiro(a) de mentir sem haver provas
- Tendência para controlar ou proibir os contactos, locais, hábitos de socialização ou até as roupas/objetos a usar pelo(a) parceiro(a)
Ciúme retroativo (ciúme do passado)
O ciúme retroativo é um tipo de ciúme que os parceiros sentem devido a acontecimentos e relações passadas. Numa relação atual, esta emoção caracteriza-se por pensamentos intensos e constantes acerca das relações e experiências anteriores do(a) parceiro(a). O ciúme retroativo pode levar a pessoa a focar-se no passado da pessoa amada, criando por vezes um impasse emocional.
Este fenómeno pode estar associado a problemas de autoestima e de confiança na relação. Pessoas que sentem ciúmes do passado do(a) parceiro(a) podem ter dificuldade em libertar-se desses pensamentos, mesmo sabendo que não podem mudar o passado.
Através de uma comunicação saudável e compreensiva, este tipo de sentimentos de ciúme pode diminuir com o tempo e ser substituído por um vínculo seguro. Podes encontrar o impacto dos nossos estilos de vinculação nas relações adultas no nosso artigo sobre estilos de vinculação.
O que é crítico nos casos de ciúme retroativo é aprender a lidar com estes sentimentos e desenvolver estratégias que permitam obter clareza e apoio, de forma a não prejudicar a relação existente.
Ciúme preventivo
O ciúme preventivo é um tipo de ciúme que inclui comportamentos e atitudes destinados a evitar a possibilidade de uma futura separação ou infidelidade na relação e a atenuar as preocupações e medos que essa possibilidade gera.
Este tipo de ciúme, que visa prevenir essas possibilidades, pode estar associado a inseguranças pessoais ou a problemas de confiança na relação. Por mais restritiva que a pessoa seja, com medo de perder o(a) parceiro(a), torna-se difícil livrar-se destes pensamentos e inseguranças.
Quais são as causas do ciúme? Quais são os fatores desencadeadores?
Embora o sentimento de ciúme seja vivido por muitas pessoas, a questão “Porque sentimos ciúmes?” não é muitas vezes enfatizada. Na verdade, existem vários fatores que originam o ciúme.
Sensibilidades pessoais
Os sentimentos de ciúme que experiencias nas relações românticas têm mais a ver com as tuas próprias sensibilidades do que com aquilo que o(a) parceiro(a) faz8. Problemas de autoestima e perceções negativas de si mesmo(a) são fatores particularmente importantes que impulsionam o ciúme. Se não te sentes suficientemente atraente ou tens inseguranças quanto ao teu lugar na relação, podes ter receios relacionados com ser amado(a) ou valorizado(a) pelo(a) parceiro(a).
Ao mesmo tempo, muitas experiências relacionais na infância e mais tarde irão afetar as nossas sensibilidades nas relações românticas. Exemplos incluem ter sido negligenciado(a) por um cuidador, experienciar discriminação entre irmãos ou testemunhar divórcio ou traição entre os pais na família5.
Resquícios de relações passadas
Noutro plano, determinadas expetativas trazidas de relações anteriores podem alimentar o desenvolvimento de ciúme excessivo8. Por exemplo, podes ter levado para a nova relação ideias vindas da relação anterior, como a possibilidade de ser traído(a) ou de não ser preferido(a) em relação a outra pessoa.
Assim, alguém que foi traído numa relação anterior pode desenvolver a crença, alimentada pelo ciúme, de que restringir o(a) parceiro(a) o(a) protegerá de voltar a ser enganado(a). Ao manter-se em constante alerta e tentar proteger-se, acaba por reprimir a alegria e a espontaneidade da relação5. Neste ponto, é essencial que tu e o(a) teu/tua parceiro(a) tenham uma comunicação aberta sobre o que aconteceu em relações anteriores e que tenham informação sobre os temas que desencadeiam dificuldades em cada um.
Expetativas irrealistas sobre as relações
Outra razão pode ser explicada pela existência de expetativas irrealistas acerca das relações românticas8. Mais uma vez, podem ter origem em relações anteriores ou resultar do facto de as tuas respostas à questão sobre como funciona ou deve ser uma relação estarem desalinhadas com a realidade.
Podes sentir que é necessário passarem todo o tempo juntos e concluir que, se isso não acontecer, constitui uma ameaça para a relação. Tal como em outras questões, a definição de limites numa relação deve basear-se em expetativas realistas e em pontos de acordo entre ambos.
O que esperam um do outro e quais dessas expetativas é possível cumprir? Ao mesmo tempo, mesmo que pareça possível, pode não ser adequado para um dos parceiros. Os limites pessoais são um aspeto que deve ser respeitado numa relação e cujo conteúdo é importante discutir e compreender em conjunto.
Outros problemas na relação que conduzem à desconfiança
Mesmo sem ter passado pela experiência de traição em relações anteriores, uma pessoa pode adotar comportamentos movidos pelo ciúme para não perder a segurança da relação que conquistou5. A desconfiança e o ciúme podem manifestar-se numa relação com motivações difíceis de distinguir.
A Dra. Sue Johnson afirma que, quando uma pessoa não sente que o(a) parceiro(a) está disponível, recetivo(a) e emocionalmente conectado(a), torna-se insegura e tem dificuldade em manter o controlo.
De forma semelhante, a terapeuta de casais Esther Perel refere que níveis muito elevados de ciúme e comportamentos semelhantes numa relação indicam a presença de outros problemas na própria relação6.
O ciúme é talvez uma das emoções mais facilmente expressas numa relação romântica, mesmo que culturalmente seja malvisto. Enquanto as normas culturais podem não permitir que outros problemas venham à superfície ou tenham voz numa relação, ser um(a) parceiro(a) ciumento(a) pode ser um aspeto mais facilmente expresso.
Repensar o conceito de ciúme
Em vez de percecionar o ciúme como uma emoção a evitar, podemos entendê-lo como uma emoção mais racional e profunda. O ciúme romântico pode mostrar-nos momentos em que não nos sentimos seguros numa relação e revelar sensibilidades relacionais5.
Quando percecionas as tuas sensibilidades como consequências da relação, o ciúme pode ser visto como uma oportunidade8. Deste ponto de vista, perguntas como “será o ciúme no amor normal?” perdem importância. Quando consegues compreender porque sentes ciúmes e refletir sobre o que isso revela acerca da relação, podes abordar a situação de forma compassiva e construtiva.
A relação pode tornar-se mais forte à medida que compreendes as tuas sensibilidades e as do(a) teu/tua parceiro(a) e trabalhas os comportamentos que daí resultam. Tu e o(a) teu/tua parceiro(a) podem conversar sobre onde essas sensibilidades se enraízam no vosso passado e presente.
Por outro lado, o teu ciúme pode ser um sinal de necessidades não satisfeitas. Talvez a tua necessidade de proximidade e os teus sentimentos de valorização estejam a manifestar-se sob a forma de ciúme na relação5.
Podes conversar com o(a) teu/tua parceiro(a) sobre o vosso nível de intimidade, definir novos limites seguros e descobrir em conjunto quais são realmente as vossas necessidades.
Aquilo que invejas no(a) teu/tua parceiro(a) pode também ser o que mais admiras e queres preservar só para ti5. Podes conversar sobre como valorizar esses aspetos, confrontar a tua necessidade de os guardar só para ti e refletir sobre onde começa e acaba o teu direito de falar sobre aquilo que o(a) parceiro(a) possui.
A tua atitude comunicativa ao abordar todos estes pontos em conjunto é muito importante. É essencial falar sobre o que aconteceu evitando ao máximo expressões como “tu nunca...” ou “tu sempre...”, partilhando de forma sincera as tuas emoções com o(a) teu/tua parceiro(a)8.
Em vez de generalizações, planear passos com base em acontecimentos ou emoções, que façam ambas as partes sentir-se seguras e bem, pode beneficiar a relação.
Como lidar com o ciúme?
Se dizes “Sou uma pessoa muito ciumenta” e perguntas o que deves fazer, pode ser útil reconsiderar o conceito de ciúme. Na verdade, pela sua própria natureza, o ciúme não é uma emoção a evitar, mas sim uma emoção natural. O essencial é definir o limite do que se faz com esta emoção6. Perseguir em excesso, manipular ou adotar comportamentos de controlo são considerados atos de violência.
Vale a pena refletir sobre como podemos continuar a sentir-nos bem e seguros connosco próprios, apesar dos sentimentos de ciúme, e como podemos expandir a nossa capacidade de tolerância. Em vez de ignorar o momento, de o viver apenas em silêncio ou de projetar esses sentimentos de forma passivo-agressiva ou reativa no(a) parceiro(a), observa quais são os momentos que mais te desafiam, as tuas sensibilidades e a sua origem7.
Reconhece que, tal como tu, o(a) teu/tua parceiro(a) também tem um passado e que essas histórias relacionais influenciam as vossas perceções do presente. Partilha com o(a) teu/tua parceiro(a) as origens dos teus sentimentos de ciúme e as tuas emoções.
Define limites relacionais com respeito e compromisso. Considera partilhar os teus sentimentos de ciúme com pessoas próximas e, se necessário, com um(a) terapeuta. Também podes considerar terapia de casal se sentires que seria útil abordar a relação e se ambos concordarem.
De acordo com as tuas necessidades de apoio psicológico, podes receber acompanhamento através dos terapeutas online especializados da Hiwell Online Therapy.
References
- Parrott, W. G., 1991, The Emotional Experiences of Envy and Jealousy, The Psychology of Jealousy and Envy.
- Ward, J. et al., 2004, Evolutionary and Social Cognitive Explanations of Sex Differences in Romantic Jealousy, Australian Journal of Psychology.
- Pines, A. M. et al., 1998, Gender Differences in Romantic Jealousy, Journal of Social Psychology.
- Buss, D. M., 2000, The Dangerous Passion: Why Jealousy is as Necessary as Love or Sex.
- Johnson, M., 2019, 5 Ways to Reframe Jealousy, Connect with Morgan Johnson.
- Eckel, S., 2016, Listening to Jealousy, Psychology Today.
- Richer, L., 2021, Overcoming Retroactive Jealousy in Relationships, Achor Light Therapy.
- Eldemire, A., Why Do We Get Jealous in Relationships? The Gottman Institute.